Stuart Carvalhais, O Artista, O Ilustrador

José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais (Vila Real de Trás-os-Montes, 7/3/1887-Lisboa, Hospital de Santa Maria, 2/3/1961). Cognominado o Bocage da ilustração e um autor ecléctico: fotógrafo, realizador, intérprete, decorador, caricaturista, pintor, figurinista, cenógrafo, ilustrador, publicitário, elaborou também cartazes. Foi um dos mais geniais caricaturistas portugueses. O seu virtuosismo reflecte-se com igual intensidade quer na versatilidade do traço quer na irreverência picante do seu humor. Estagiário no atelier de azulejo de Jorge Colaço, foi pela mão do mestre que chegou ao suplemento humorístico d’ O Século, onde publicou os seus primeiros trabalhos. Seguiram-se outras experiências, nomeadamente: Ilustração Portuguesa, A Voz da Juventude, A Garra, O Zé e A Sátira. Ligou-se aos modernistas e foi co-fundador da Sociedade dos Humoristas Portugueses. Ainda colaborou com A Lanterna e O Pardal, antes de partir para Paris, em 1913, onde alcançou um rápido sucesso. Porém, o apelo pátrio acabará por o fazer regressar, pouco tempo depois, para trabalhar no Século Cómico, para o qual criou a famosa dupla de heróis Quim e Manecas. Dotado de uma criatividade inesgotável ainda conquistou leitores de publicações, como o Papagaio Real, Os Sports, o Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Vida Mundial, Sempre Fixe, Ridículos, entre muitas outras. Inicialmente, assinava os trabalhos com o nome “José Stuart Carvalhais”, mas acabou por estilizar-se no “Stuart”. Pelo meio ficaram pseudónimos como “Job” e “Albino”.

Camilo e a sua casa de S. Miguel de Seide, 1958
Camilo e a sua casa de S. Miguel de Seide, 1958

Fiadeiro Duarte de Cifantes e Leão

No desenho está tudo: os contornos certeiros e rápidos definem a figura de Camilo Castelo Branco, recortando-o do vazio do fundo e destacando a sua imagem da casa de S. Miguel de Seide, transmitindo a ideia de “última morada” ou de “penoso refúgio” – ideia reflectida pelo olhar no desenho.

O Ardina
O Ardina

Profundo conhecedor do basfond lisboeta, fixa da capital um registo que cruza com o seu, servindo-o com resultados surpreendentes no uso da mancha (tantas vezes feita com café ou com vinho) e de texturas, na definição ou languidez da linha, nos ritmos do traço. Assim, elegante na ilustração, essencial neste tipo de desenho, cada personagem de Stuart detém, na representação, os conceitos que a ela estão associados. Negra e violenta, a miséria, como o vício ou a solidão, é caracterizada em traços rápidos e rugosos, gastos ou recortados, no contraste de preto e branco.

Na negrura do olhar e no desafio da pose fica clara a afirmação do seu poder, logo negado pelo traço “raspado”, cuja parca incisão de negro, a prometer diluição, sublinha o silêncio, permitindo que se insinue a ironia sobre a solidão.

Uma estética “Romântica” que consegue, de uma forma sublime, transmitir toda a carga emocional de Camilo no seu tempo e temperamento, perspectivando uma época e um tempo da personagem; numa representação cénica crua mas visceral no conteúdo, num exercício do desenho para periódico.