“Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim –
Um bocado de ti e de mim!…”
Álvaro de Campos
É sobejamente conhecido o fascínio que Michael Barrett nutria por Fernando Pessoa e pelo complexo heteronimismo pessoano. Ao longo de anos de uma carreira artística, versou em telas
múltiplas individualidades de Fernando Pessoa que hoje redescobrimos a cada passo no encontro da sua obra legada.
Assim, cabe-me acreditar que Barrett não nutria apenas mero fascínio de um qualquer curioso. Antes, mostra um conhecimento profundo da sua obra poética e de artigos que escreveu que interpretou no seu ritmo, ao seu jeito, pela sua paleta e mestria, em obras que perpetuam o Poeta ímpar e a sua genialidade. Tal como Barrett se via a si próprio: não um marginal, mas um “out side” de modas, estilos pré-definidos, uma personalidade múltipla, mas sua… um compromisso consigo mesmo.
Um paralelismo místico que Barrett cultivou, levando alguns a pensar num devaneio artístico, mas antes, prova de uma cumplicidade com a obra pessoana e a visão do outro em que, por vezes, se revê.
A Arte é o perscrutar do Artista por caminhos seus ou alheios a si, mas que no percurso intimo se transpõem para composições viscerais que provam a excelência do trabalho e do conhecimento.
Nesta peça encontro, mais uma vez, o intimismo por Barrett de Pessoa!