Fernando Pessoa por Michael Barrett

FERNANDO PESSOA, 1985, por MICHAEL BARRETT (1926-2004); NANQUIM S/ PAPEL, 300×195

“Outra vez te revejo,

  Mas, ai, a mim não me revejo!

  Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,

  E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim –

  Um bocado de ti e de mim!…”

                                                                            Álvaro de Campos

É sobejamente conhecido o fascínio que Michael Barrett nutria por Fernando Pessoa e pelo complexo heteronimismo pessoano. Ao longo de anos de uma carreira artística, versou em telas

múltiplas individualidades de Fernando Pessoa que hoje redescobrimos a cada passo no encontro da sua obra legada.

Assim, cabe-me acreditar que Barrett não nutria apenas mero fascínio de um qualquer curioso. Antes, mostra um conhecimento profundo da sua obra poética e de artigos que escreveu  que interpretou no seu ritmo, ao seu jeito, pela sua paleta e mestria, em obras que perpetuam o Poeta ímpar e a sua genialidade. Tal como Barrett se via a si próprio: não um marginal, mas um “out side” de modas, estilos pré-definidos, uma personalidade múltipla, mas sua… um compromisso consigo mesmo. 

Um paralelismo místico que Barrett cultivou, levando alguns a pensar num devaneio artístico, mas antes, prova de uma cumplicidade com a obra pessoana e a visão do outro em que, por vezes, se revê.

A Arte é o perscrutar do Artista por caminhos seus ou alheios a si, mas que no percurso intimo se transpõem para composições viscerais que provam a excelência do trabalho e do conhecimento.

Nesta peça encontro, mais uma vez, o intimismo por Barrett de Pessoa!

   

Catálogo de um Libertino confesso!

Catálogo de um Libertino confesso!

IMG_3467O Libertino – Estética erótica em formas artísticas que preenchem palavras que suscitam prazer.

“Digam o que disserem, ele prova-nos que, malgrado as mais aviltantes experiências que a vida ofereça a um homem [ou mulher], o espírito do amor sobrevive para nos enaltecer as vidas se tivermos a inteligência e a coragem e a fé – e a arte! para persistir.”

William Carlos Williams, in Introdução do Uivo e Outros Poemas


Catálogo para uma exposição colectiva de Arte com estética erótica.

O Libertino, estética erótica em formas artísticas que preenchem palavras que suscitam prazer, exposição colectiva de arte, com curadoria de Vieira Duque, tendo como mote “O Bordel das Musas ou as nove donzelas putas” de Claude Le Petit (Séc. XVII), “Escritos pornográficos” de Boris Vian (Séc. XX), “Uivo e Outros Poemas”, 1956, de Allen Ginsberg, impulsionador da geração beat, e a figura histórica John Wilmot, Segundo Conde de Rochester, que foi um libertino inglês, amigo do rei Carlos II e escritor de muita poesia satírica e obscena, através do filme “O Libertino” de Laurence Dunmore.


“Obscurité charmante, ombre vaste et pompeuse,

Image du neant, voluptueuse nuit,

Mère de mon amour que l’Amour tousjours suit,

Rend-moy l’aymable objet de mon âme amoureuse.”

Claude Le Petit, Songe amoureux. sonnet en vers


Arte!

Onde poderemos enquadrar esta exposição?

Obviamente numa colectiva de arte contemporânea, com pintura, escultura e fotografia, num ambiente intimista e com ilustração sonora da BSO do espectáculo circense ZUMANITY, Cirque du Soleil, e mostra bibliográfica das três obras literárias que serviram de mote e obras de Elizabeth Barrett Browning e de Virginia Woolf – acompanhadas por fotografias do fotógrafo Alexandre Almeida –  numa instalação onde procuro explorar o erotismo metafísico de quem “parte deste mundo” deixando para trás Memórias e Paixões, mulheres que perpetuam sentimentos ímpares de inclusão no ambiente do “tão bem querer” e do possuir pela carne, pelo espírito e pela arte; vidas que se cruzam entre si em momentos e realidades diferentes e com homens que as perpetuaram, num abraço que transcende a morte.

A Arte é isto! Ou antes, permite o perpétuo e o possuir em qualquer momento. É deste enlace que poderá sempre renascer a Alma do Amante! A Alma como ventre do desejo! Taça que saceia o desejo pelo erotismo sagrado que se desprende na “ante-posse” do Belo.

Entre obras do fotógrafo Nuno Horta e do pintor Duarte Vitória, assistimos ao filme filme “O Libertino” de Laurence Dunmore. Ilustração cénica e histórica.

Sem dúvida que se trata de uma exposição nada inocente no tema, mas com uma abordagem eclética e transversal na dinâmica, materializada pela arte, dos sentimentos e das emoções humanas que cabem em cada um de nós no presente e em qualquer passado, apenas reflectindo aspirações, comoções ou anseios, legítimos ou mais ambiguos, que em todos não serão inocentes, mas naturais, com toda a certeza.

Neste catálogo somos convidados a abservar Arte, não devaneios fúteis ou meros “orgasmos expositivos”.

A Vida é o todo e a Arte a sua mais sublime afirmação.

de Matos – Memórias d’aquém e d’além

“Todos os meus dias são um adeus.” (Chateaubriand)

Vertigo, 2010
Vertigo, 2010

A Arte tem de comunicar e, nesse acto, o Artista constrói e desconstrói patrimónios tangíveis e intangíveis de Memória, em António de Matos Ferreira (n. 16 de Abril de 1942, Cantanhede) poderão perspectivar, prevendo, os “fantasmas surrealistas” que pululam na sua obra pictórica numa paleta de cores ímpar e representativa de quem vive num pensamento democrático e livre, de vivências e experiências próprias, em momentos presentes, revividos.

Inquietude, 2012
Inquietude, 2012

As suas exposições são sempre “instalações autobiográficas cerebrais” de uma vivência no presente e reflectem o Mundo e a sua visão pessoal, por entre tons gritantes de alguma humanidade desesperante e crítica, se quisermos, em última instância, discorrer sobre a matéria em cada uma das suas telas, sempre encontramos olhares que nos instigam a esse diálogo metapoético pictórico urgente no querermos agentes proactivos ao encontro de paradigmas fulcrais para a acção primeira do trabalho do Artista e no objectivo da Obra de Arte: Inclusão, Permanência e Paixão!

A pintura do De Matos transmite uma inquietude serena, uma nostalgia perto de uma inesgotável tristeza consciente: reiterando sempre instantes resgatados de um Passado: Viagem intensa e policromada!

O sentimento que nos desperta é o da volta da viagem, numa forma sensitiva em que experienciamos esse Passado com flashes de Memórias: Património intangível, irrevogável no Tempo e na Acção. O que comove na Viagem do Tempo que somos e provando que somos um “intervalo na vida do Mundo”. De salientar a Arte presente neste intervalo que reinventaremos nesta exposição de um Artista autodidacta e tímido, de um Homem, de um Viajante, de um Intervalo com Instantes de António de Matos Ferreira.

A sua vida em África e na Europa, aliada a experiências profissionais díspares, levam a sua incursão pela Arte e a sua própria construção estética e estilística, a uma paixão desde cedo, a explorar a comunicação da “paisagem alheia de gentes vulgares” por entre reflexos, neblinas e uma mística quase permanente, por entre palavras surdas de gente com carisma, de rostos disformes que nos assombram e inquietam. Um caminho sempre com movimento e memórias que tocam uma autobiografia transcendente, de sorrisos a medo, tímidos.

O Flautista, 2012
O Flautista, 2012

Desde há alguns anos que a sua tarefa humanizadora por policromias semi-obscuras, através de composições coloridas, enredou por um psiquismo de auto-promoção e de leituras íntimas para com tudo o que o rodeia: permissão de isolamento e de interiorizar o outro e o quotidiano que o não retira, na sua pintura, da intenção de explanar a partir de si a Vida.

Nas novas obras presentes, encontro uma fecundidade latente em pinceladas e manchas de tinta que me transportam a um título de eternas saudades e de um permanente e imanente Adeus que se consolida em composições másculas sensitivas e provas de um percurso transcultural e intercontinentais.

Percursos ou vivências? Com toda a certeza, energias de dádiva que se partilham!

Porque a Vida é o enamoramento de cada um de nós com os Instantes que constroem a nossa Memória, sendo esta o ventre da Alma, como o afirmou Santo Agostinho, permitamos que a Arte povoe o que somos, simplesmente “Um Intervalo”, despertando-nos para os prazeres que rumam à Felicidade, porque já muitos o afirmaram: é tão-só ao que temos direito e ao que devemos aspirar. Façamos jus a essa Felicidade e ao prazer de sermos! Arte!

Com a obra do De Matos sentimos esse prazer pelo próprio António de Matos Ferreira, em pinceladas circulares, mas não concêntricas, sempre a aspirar o permanente, ondulando, por vezes, entre figuras de feminilidade, contrastando com nuances de masculinidade: fecundidade, a Vida que se perpetua, consolidando-se na Arte.


 

Conceição Mendes – Maturidade numa pintura autobiográfica

Afrodite, 2012
Afrodite, 2012

Nas telas de Conceição Mendes antevemos pessoas, em grupo ou solitárias, que se alheiam do Nós para observar obras de arte ou a si próprias, num registo de autoidentidade por entre os tons de azul, vermelho, verde e amarelo. Se pensássemos numa análise psicológica da sua paleta chegaríamos a uma profusão de sentimentos da autora como narração existencialista de si. Em grandes formatos uma autobiografia que comunica a maturidade do exercício de Mulher.


Nota biográfica:

Conceição Mendes nasceu em Nova Lisboa, actual Huambo, Angola.

Mestre em Comunicação Estética, Pós Graduada em Comunicação Estética e Licenciada em Pintura, pela Escola Universitária das Artes de Coimbra – EUAC.

Licenciada em Educação do Ensino Básico, tendo exercido a docência até 2002.

Formação em Decoração de Interiores, pelo Instituto Luso-Brasileiro (Angola).

Docente da cadeira de Pintura na Universidade Livre – ANAI – Coimbra

Participa com frequência em bienais e exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro, em Museus, Centros de Arte e Galerias.

Participa e colabora regularmente em projectos diversificados no âmbito das Artes Plásticas.

Está representada em diversas Instituições e colecções particulares em Portugal e no estrangeiro.

Prémio de Pintura “MONDEGO 2010” – Museu da Água, Coimbra

Prémio de Pintura “V CERTAMEN DE PINTURA” 2007 – Villafranca de Los Barros, Badajoz, Espanha

Manuel Filipe – Precursor do Neorrealismo em Portugal

A Familia
A Família, 1943

Manuel Filipe nasceu em Condeixa-a-Nova, 1908, e faleceu em Lisboa, 2002. Traduziu de forma paradigmática o grito de revolta, a subversão, em criação artística. A sua designada “Fase negra” (1943-1945), marcadamente neorrealista, e de inspiração expressionista, do realismo socialista, e dos coevos mexicanos, é uma expressão dramática da temática social e da luta contra a opressão totalitária. Entre o humor ou o satírico e o drama da miséria humana, representa transfiguradamente, através dos traços negros sobre papel, os ideais por que pugna, a “tomada de consciência dos homens avisados” e inconformados.

Esta é, sem dúvida, a leitura nesta obra: A Família, de 1943. Início da sua fase artística classificada como “Fase negra”.

Filho de um trabalhador rural e de uma pequena comerciante, ao mesmo tempo que ajudava o pai nas suas horas livres, no amanho da terra, dava os seus primeiros passos na Arte do Desenho quando ainda vivia em Condeixa; possivelmente, a (auto) imagem aqui retratada. Frequentou aulas particulares e posteriormente a escola de artes e ofícios. Vai estudar para Coimbra, para o Curso Misto de Ciências, Letras e Artes, contudo a sua aprendizagem para professor está ligada ao desenho que insistentemente praticava. A irreverência que o caracterizava vale-lhe nos primeiros tempos da Ditadura um mês de prisão no Forte da Trafaria. Foi professor de Desenho no Ensino Liceal. Na sua carreira pedagógica, aquando das exposições individuais que realizou no Porto e em Braga, e da II Exposição Geral na SNBA, foi ameaçado pela PIDE de que se voltasse a expor seria demitido do cargo de professor. Nessas exposições, as suas obras consideradas de subversivas, foram retiradas, vandalizadas ou, mesmo, a mostra mandada encerrar pelo Governador Civil.

Esta repressão, esta censura por parte do Estado Novo leva-o a abandonar a actividade artística até 1961, data de início de uma segunda, distinta e muito fecunda fase criativa. Nas próprias palavras de Manuel Filipe podemos encontrar o sentido da sua arte dos meados do século vinte, quando afirma: a pintura neorrealista “deve ser esteticamente bela (…) [mas] tematicamente (…) tratando corajosamente problemas que possam melhorar a condição humana”. Reflexo de um humanismo ansiado, e também com certeza de uma guerra que lavrava no mundo, este artista mostra num expressionismo denso, mas sempre estético, a rudeza desta condição, quando representa figurativamente as mais gritantes injustiças sociais, os infortúnios da pobreza, da servidão e da brutalidade. As personagens que traça são no fundo, sobreviventes, de mãos e pés desconformes, numa desmesura de um olhar sempre aberto, para a consciência ou para um soabrir da esperança.

Michael Barrett – Devoção e Redenção em Barrett

O-Pescador
O Pescador, 1964

Quem sou eu, senão um ser atormentado, como todos os homens, que não quer senão pintar, que só não é medíocre pintando? Quem sou eu, senão alguém que sonha (…) No fundo, quem sou eu?” 

Michael Barrett

Em Michael Barrett vivenciamos a liberdade espiritual numa paleta monocromática de intimidade ou numa policromia intensa, onde o divino e o humano, em simbiose, transportam, de forma quase brutal, flores que brotam em orgias de pinceladas a um Deus que é o Ser: Ele e os Pares. Um academismo inexistente, mas latente em mestria que nos envolve na sua História…

A devoção por si que reflectia, pelas mulheres que amou, pela pintura de múltiplos orgasmos, momentos ímpares de êxtase criativo, pela comida que jamais o saciou!… A redenção ao sexo e a um deus que persistiu em desconhecer… à faina no cais, o quotidiano de Cascais, Buarcos ou por Aveiro…

Em Michael Barrett o pecado não é a um Deus mas aos homens e mulheres que são o seu elemento fundamental de vida… Gente que passa ou que permanece, I love you Marie Louise / I don´t want to die! Krishna / Ciao, a vida tal como é, sem borras… antes laivos do café que importa e se esgota, como aguarela do Mundo que anseia por descobrir, mas cuja viagem nega!

Place du Tertre, num traço que nos remete a um momento entre artistas, com o seu cavalete, numa cidade onde foi concebido. Pecado? O destino que traça num Impressionismo Moderno. Fugas… talvez de si, desse cabal fim predestinado, de pré-conceitos que retalha para se libertarem, sonhando pela absolvição, tal Homem da Sé, ou o Pescador, ou Barrett ou a declaração de eterno amor a Marie Louise. Absolvição por um Deus, King of Jews, que Vamos Espezinhumilhá-lo! Ou por si, numa rua de Cascais, num olhar pela Costa Nova ou pelas salinas de Aveiro. Mas sempre o fascínio pelo urbanismo histórico, como o Palácio da Pena e a natureza da Ria.

Um Impressionismo Moderno que resgata de Van Gogh, Cezanne e Gauguin (pós-impressionistas que admira e trata como mestres), de quem fala no texto que herdámos na obra Ilha de Lesbos, onde exprime a sua preocupação conceptual sem rodeios, numa maturidade que não se exige mas se pressente num ser divinamente livre!

E Fernando Pessoa… sempre o Poeta. Numa devoção impressionista, mas numa redenção pelo Homem. Essência de vaidade e vergonha… tal o espírito em Barrett: Irrequieto, inconstante, inquieto… mas, sem dúvida, Humano! O seu calvário: o próprio, como todos! Mas consciente na sua pintura e produção artística.

Boa noite, Barrett. Coimbra, 25/03/2015, 01:55

Auto-retrato
Auto-retrato, 1974

Michael Nicholas Barrett nasceu em Paris a 13 de Fevereiro de 1926 (filho de mãe inglesa,  Dorothy Alice Barrett, e pai francês). Veio aos 9 anos para Portugal. Foi o arquitecto Gil Graça que o incentivou para a pintura. Morreu a 6 de Maio de 2004, em Cascais.

Casou com Marie Louise Forsberg, sueca, em 1961, com quem teve dois filhos, João Nicolau (n. 1961) e Teresa Cristina (n. 1963).

A partir da década de 70 do séc. XX, passou longas temporadas em Aveiro. Na década de 90 passou a residir em Buarcos, onde Marie Louise morreu.


MICHAEL BARRETT – Pintor de Memórias

A Arte não é acomodada e nem está refém de quaisquer subterfúgios, caso contrário, não será Arte! Antes, a repulsa da mesma.

A Arte permite a comunhão entre a responsabilidade, o conhecimento e a acção. Com mecanismos da matéria sensitiva e do teor de estéticas que atraem, comprometem-nos numa global vontade de harmonia, podendo impulsionar essa realidade.

A Arte e a sua produção é a condição mais visceral de comunicar e preservar latente o presente dos tempos, o Ser Humano e a sua História.

Sendo, sem quaisquer dúvidas, uma referência na arte portuguesa do séc. XX, Michael Barrett acentuou uma modernidade no seu trabalho pictórico definida pela extraordinária sensibilidade que incutia nas representações do quotidiano que por onde passava o apaixonavam.

Uma viagem interior de análise do Mundo – devassando a realidade – e que nos transmite a respectiva amplitude dos sentimentos, valores e emoções numa paleta muito própria e intimista, quer na profusão de cores a óleo, acrílico ou aguarela, como no diálogo solitário das manchas preto/ cinzas em aguarela que completam o traço e a tinta-da-china que definem roteiros de cada existência; tal como os desenhos a caneta apresentando ruas que convidam ao ser social ou, ao invés, a uma solidão sentida, pressentida e mantida como necessária.

Uma democratização no trabalho artístico que toca um Impressionismo Moderno e, por vezes também, um neorrealismo, fugindo dos padrões convencionais e academismos da moda.

No entanto, influenciado de forma marcante por uma escola impressionista/ expressionista, tendo como referências o mestre Henri Matisse que admirava pelas suas composições onde apenas o essencial era retratado.

Barrett permite-nos, a nós museólogos, trabalhar o património artístico como se de uma viagem se tratasse e/ou de uma autobiografia, mesmo quando o outro não está em si, mas aceitando e valorizando as diferenças e promovendo a multiplicidade de cada um de nós a partir de si mesmo: criando cenários e humanidades; descrevendo pessoas (família, amigos, gentes, o próprio), lugares e paisagens familiares. Desafiando a capacidade humana em que acredito: Amar!

Barrett é, sem dúvida, um indivíduo que vale pelas Memórias que traduziu pela Arte, sem barreiras e sem os condicionalismos que anteriormente referi. É exigido, no panorama da Arte em Portugal do Séc. XX, fazermos jus a estes expoentes do movimento artístico: colocar obras suas nos nossos museus de arte contemporânea, em exposição permanente e não permitir apenas que se limitem às reservas ou às vicissitudes do mercado galerista, embora esta área seja também importante; promover estes nomes nos meios que dispomos para a respectiva internacionalização; desenvolver e apoiar trabalhos académicos de valor e possibilitar a divulgar os mesmos.

Estou convencido de que estas são as responsabilidades primárias dos museus hoje. Contrariar esta função emergente será condenarmos a arte nacional ao ostracismo e adiarmos a democratização de acesso à Arte e à Cultura.

Porque acredito que o Caminho é de Memórias porque se a Arte promove o Presente e o seu reflexo no Futuro, funcionará como espelho para os personagens do Hoje e do Amanhã, numa comunhão de saberes, de erros, de efeitos, de vitórias, de alegrias, de tristezas, de derrotas: DESPOJOS DE NÓS!

Michael Barrett, como outros responsáveis pela produção artística em Portugal, oferecem-nos hinos da poética do coração humano, trazidos por um Caminho silencioso do passado histórico, despojado de artifícios ocos, tal como toda a Arte que se quer honesta para, assim, alcançarmos a honestidade que permitirá sobrevivermos: RECONSTRUÇÃO DO NÓS: RESSURREIÇÃO!